quarta-feira, 2 de abril de 2008

A Fuga


Falta de Ordem - a cronológica -, apenas a falta de qualquer lógica: seria ela, a Ordem ou a lógica?, necessária?

A lógica da repetição faz sentido; é presente, não respeita o cansaço. Aquela faixa engraçada de lados trocados suga as energias daqueles que tentam pular para outro lado, o inexistente.

Por isso A Fuga: A Arte (aqui utilize o conceito que quiser). Devo, então, usar as palavras de certo Pessoa: "O essencial da arte é exprimir; o que se exprime não interessa."

E se a expressão for não mais que essas mortalmente repetidas palavras? Uns farrapos de letras que possivelmente milhares já cantaram antes; representantes da vileza de um sentimento comum.

Responda-me, Amigo.

Inglaterra

Vou-me embora pra Inglaterra
Andar em ruas estreitas
Parar por entre relógios
Tomar chá com chapeleiros
Ver um anjo na neve

Vou voando pra Inglaterra
Deixar este mar bravio
Despir do sentimento arredio
Pelo chicote dos olhares descritos
Daqueles que são bons demais

Sabe, espero encontrar na Inglaterra
Nem nova vida nem nova amada
Só nova alvorada e nova morada,
Bases firmes e fortes para agüentar o peso
E a dor da consciência daquele
Que foge sem olhar pra trás

Vou fugindo pra Inglaterra
Para esquecer que no beijo fiquei só
Até no imaginário, que é secreto,
Não vou lembrar dos seus seiscentos amigos
Nem dos quatrocentos amantes antigos
Muito menos lembrarei de seu sorriso furtivo
Que até a cor dos meus cabelos levava

Vou chorando pra Inglaterra
Girar nas pedras em círculo
Procurar um grande monstro perdido, e
No infinito das estrelas cadentes e dos cometas,
Me perderei no caminho de leite,
Que derramado e salgado estará,
Pois eu, estátua de sal, dissolvido vou ficar.

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