domingo, 20 de abril de 2008

O Nada é cheio; nada do que Quero.

A tristeza do começo de uma poesia - pela ânsia da escrita - é dada pela incapacidade da imaginação. Sinto-me, mais que nunca, passível diante de meu maior temor: ser nada mais que um eu de pedra, ser tudo menos que aquelas bonitas palavras.

Ser como os Maiores, se não pelo tamanho pelo menos pelo ofício.

"É sempre a nossa tentativa de sermos plenos sem, de fato, conseguirmos sair da prisão de nós mesmos..." (Brisa de Araújo)

Sim, estas são minhas tentativas. Há um Caderno Negro cheio delas: um que parece passado, fica mais distante. Meu nome se apaga.

Me sobram as reminiscências; as vezes algo vem como o que segue. O resto é do Passado.

Não sei se tenho coragem para me mostrar o passado.

Esta Poesia é sobre nada

Que venham as palavras bonitas,
as rimas mal-feitas,
Deixo chegarem as frase esquisitas
ou as mais perfeitas seqüências
de letras
(que podem nem fazer sentido).

Sento-me ao caderno,
escrevo ao Nada e nada leio,
só tenho o Nada,
Mas nada não é cheio.

Proponho o enrolado,
ponho as vírgulas fora de ordem
, deixo o leitor apavorado
- Oh, que escrito original
Nada, é que o meu nada não é normal.

Leio Yeats, vou ao Interior,
Escolho (só por prazer)
uma viagem ao exterior:
Passo tempo falando de neve
ou qualquer coisa que leve tempo,
pois apesar de nada ter para falar
ainda acho que tenho talento.

Mas essa idéia morre, cai no chão -
Talento é para poucos -
A mim só sobra a solidão.
Sai o sangue, sai a rima, nada que me comprima,
Que represente meu quadro,
Meu nome que nele deveria estar pintado. Talvez

Apelo aos Deuses, trovões e tragédias romanescas:
se não funciona
Liberto minha mente,
Sirvo filósofos à Puttanesca.
Sinto que perco, me perco pouco a pouco,
Um dia, um dia não haverá mais nada.
Meus dedos cairão, não sobrará mais nada.

Sei que nada serei; apenas uma gaiola vazia.

(20/04/08)

Um comentário:

Daniel Aleixo disse...

Muito bonito, realmente. Acho que é uma prova e uma antítese ao mesmo tempo, grande antítese. Abração.